HISTÓRIA DA CATEQUESE NO BRASIL
Luiz Carlos Ramos da Silva – formador – catequista – bacharel em teologia.
Fontes bibliográficas:
ü Dicionário de Catequética – Paulus.
ü 3ª Semana Brasileira de Catequese – Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética / CNBB.
ü Revistas de Catequese – ano 31, nº 126 – abril/junho 2009.
Introdução. A
história da Catequese no Brasil, como a história da Igreja, se
desenrola juntamente com os momentos vividos no país, desde a sua
descoberta pelos portugueses, até a época atual, conforme relatos dos
historiadores.
Assim,
as estruturas do Reino de Portugal tinham não só uma dimensão
político-administrativa, mas também religiosa. Com a criação do
Padroado, muitas das atividades características da Igreja Católica eram, na verdade, funções do poder político. Particularmente a Inquisição,
que nos Impérios de Portugal e da Espanha (que também beneficiava do
regime de padroado) funcionou mais como uma polícia do que a sua função
inicial religiosa.
O
Padroado português foi muito alterado ao longo dos tempos, mas os seus
últimos vestígios foram suprimidos com o desmantelamento do Império Português e com o Concílio Vaticano II
(1962-1965), que desencorajava este tipo de organização da Igreja, em
que o Estado se intrometia demasiado nos assuntos eclesiásticos.
A catequese no Brasil Colônia (1500 – 1759), Com
a expedição de Pedro Álvares Cabral, em 1500, que encontra a terra que
mais tarde receberá o nome de Brasil, estavam capelães, coordenados por
Frei Henrique Coimbra, que nessas novas terras celebra a Primeira Missa.
Em 1549, com Tomé de Souza, primeiro governador, chega o primeiro grupo
de jesuítas, tendo à frente padre Manoel da Nóbrega (1517-1570). 1553
acompanha o segundo governador geral, Duarte da Costa, o jovem Jesuíta,
de 19 anos, José de Anchieta (1533-1597), natural de Tenerife, nas ilhas
Canárias.
A
História registra que um dos primeiros catequistas do Brasil foi Pedro
palácios (1500-1570), um leigo ermitão, provavelmente muito devoto de
São Pedro de Alcântara, que viajou para o Brasil com os primeiros
jesuítas e se instalou, em 1558, numa gruta, perto de Vila Velha, onde
se originou Vitória, a Capital do Estado do Espírito Santo.
Os
colonizadores e colonizados identificavam a cultura européia com o
cristianismo. Evangelizar e catequizar eram o mesmo que europeizar,
aportuguesar. Tornar os índios cristãos requeria, portanto, torná-los
portugueses, em tudo e para tudo, pois eram considerados pagãos e
bárbaros inimigos da fé cristã e da civilização trazida pelos
portugueses. Aos poucos nasceu e se firmou, no Brasil, a Cristandade
Colonial, segundo os moldes da Cristandade Portuguesa medieval.
Podemos dizer eram quatro os métodos usados para a formação e a consolidação da Cristandade colonial no Brasil:
1º Espontâneo
– era o da convivência dos portugueses com a população autóctone,
influenciado-a no modo de viver como católico: suas devoções, as festas
populares católicas, os casamentos entre os colonizadores e os nativos.
2º O trabalho dos missionários jesuítas,
que organizaram e levaram à frente, de 1549 até 1580, um sistema de
catequese, específica para a instrução religiosa dos Índios. Iniciaram,
como escreve Nóbrega, a partir de um leigo, em 10 de abril de 1459: “O
Irmão Vicente Rijo ensina a doutrina ás crianças cada dia, e, também,
tem escola de ler e escrever... Mas foi José
de Anchieta o verdadeiro líder deste processo de catequese dos
indígenas. As demais Ordens Religiosas, Carmelitas, mercedários,
Franciscanos, mesmo sem a catequese sistemática, como faziam os
jesuítas, exerceram grande influência na evangelização e manutenção da
fé nos colonizadores e nos índios.
3º Catequese paroquial – os padres, apesar de muito poucos, e mal preparados tinham obrigação de ensinar o catecismo.
4º Guerra santa
– o império tinha o aval da Igreja para combater os inimigos desta fé.
No Brasil Colônia esta guerra aconteceu contra os calvinistas e
luteranos. Mas, também, contra os índios que se recusavam a ingressar na
sociedade portuguesa, o que equivalia a recusar a Igreja.
E
este quarto método fazia apelo à Inquisição introduzida em Portugal em
1536, por D. João III e, no Brasil, em 1591. Os suspeitos de heresia, de
desrespeito grave aos padrões religiosos e morais do catolicismo da
época, eram entregues aos tribunais eclesiásticos (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre).
A catequese no período da crise da consciência católica (1759-1840).
Sebastião José de Carvalho e Mello, Marquês de Pombal, Ministro de D.
José I de 1750 a 1777, expulsou a Companhia de Jesus de Portugal e de
todas as colônias, por carta datada de 1759. Em conflito com o Vaticano,
por assumirem ritos chineses e malabares nas missões da China e Japão, e
por resistirem á secularização do pensamento, apoiada no princípio da
razão e na nova ciência (Descartes, Newton, Locke), assim como a moderna
concepção do Estado, que negava a intervenção papal e da Igreja nos
assuntos temporais, os Jesuítas caíram na desgraça do governo português.
Depois de ameaçá-los, o Marquês de Pombal confiscou todos os seus bens,
e finalmente, com outros líderes da Europa, conseguiu o Papa a extinção
da Companhia de Jesus, que foi reabilitada pelo papa Pio VII em 1814.
Nestes
55 anos de silêncio dos jesuítas no Brasil e com as Ordens religiosas
em crise, a Igreja ficou profundamente enfraquecida em sua influência
social.
Esta
crise católica enfraqueceu a Igreja neste período, ocasionando uma
lacuna na formação do catolicismo brasileiro, e com certa influência do
galicanismo jansenista, no clero. Isso alimentou um movimento entre os
padres propondo uma Igreja de cunho nacionalista brasileiro, com um
clero não celibatário e num estilo de vida muito semelhante ao dos
leigos.
A catequese na reforma católica de índole tridentina (1840 a 1920).
A Reforma Tridentina foi introduzida no Brasil apenas em meados do
século XIX, quando D. Pedro II iniciava seu reinado, em 1840. O
episcopado brasileiro decidiu substituir o tradicional catolicismo
lusitano, de cunho medieval e submisso ao Estado, pelo catolicismo de
caráter romano, desvinculado do poder civil, e reformado de acordo com
as decisões do concílio de Trento (1545-1563), com amplas mudanças na
vida do clero, na liturgia (Missal de Pio V), no catecismo (catecismo
Romano de Trento) etc. A reforma tridentina aconteceu de 1840 a 1889,
tendo sua fase de consolidação nas três primeiras décadas da república,
isto é, de 1890 a 1920, com o reforço do Concílio Plenário para a
América Latina, em Roma, com Leão XIII (1900), e a renovação da
catequese liderada pelo Papa Pio X (1905).
A restauração da influência católica na sociedade (1920-1960). Não
foi fácil para a Igreja atuar nas primeiras décadas da República,
devido à separação Estado e Igreja, imposta pelo novo regime de governo.
Mas, além da quase totalidade do povo ser católico, o zelo pela ordem
social sempre manteve a Igreja nas boas graças do governo. Isso
encorajou alguns bispos a propor uma afirmação maior da Igreja na
sociedade e um novo entendimento oficial com o Governo, sobretudo, no
sentido de mútua colaboração para o bem dom o país. O catecismo e o
ensino da religião nas escolas do Estado, afirmavam os bispos, eram
pilastras fundamentais para a formação do cidadão honesto e cumpridor de
seus deveres com a família e a pátria.
A renovação da Catequese sob influência do Concílio Vaticano II
(de 1965 em diante). A catequese no Brasil influenciada pelo Plano de
Emergência da CNBB, 1962, e, em seguida pela renovação católica
desencadeada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) entra num progressivo
processo de renovação, com marcos significativos em sua caminhada.
No
começo da década de sessenta o Brasil recebe forte influência da
catequese francesa, por meio de ex-alunos do Instituto Superior de
catequese de Paris (ISPC), que no Brasil criam algo similar, que foi de
grande importância para a nossa Igreja: o Instituto Superior de Pastoral
Catequética (ISPAC), que se multiplica por diversas capitais do Brasil.
Em
julho de 1969, na X Assembléia Geral da CNBB, o Secretariado Nacional
de Catequese, em seu relatório, apresenta a necessidade urgente de uma
nova imagem da catequese, que ultrapasse o nocionismo e as memorizações
para a redescoberta da mensagem cristã e do compromisso com a missão
profética da Igreja. Uma catequese encarnada na vida pessoal e
comunitária do homem, que vive e atua na família, na profissão, na
política, na cultura. DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA - PAULUS
Em 15 de abril de 1983, foi aprovado, durante a 21ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o documento Catequese Renovada: orientações e conteúdos, trazendo novas formas de se pensar e de se fazer a educação da fé.
Entre
13 e 18 de outubro de 1986, na Vila Kostka, em Itaici, Idaiatuba, São
Paulo, realizou-se a 1ª Semana Brasileira de Catequese, com o tema
central “Fé e vida em comunidade: renovação da Igreja e transformação da
sociedade”.
Em
2001, nos dias 8 a 12 de outubro, foi realizada a 2ª SBC, em Itaici
(SP), com o tema central “Com adultos, catequese adulta” e o lema
“Crescer rumo a maturidade em Cristo (Ef 4, 13)”.
2005, na 43ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, entre os dias 9 e 17 de agosto, foi aprovado o texto do documento 83, Diretório Nacional de Catequese.
O
objetivo geral do Diretório Nacional de Catequese é apresentar a
natureza e a finalidade da catequese, traçar os critérios de ação
catequética, orientar, coordenar e estimular a atividade catequética nas
diversas regiões. Pretende, para tanto, estabelecer princípios
bíblico-teológicos para promover e impulsionar a renovação da
mentalidade catequética; orientar o planejamento e a realização da
atividade catequética; coordenar as diversas iniciativas catequéticas;
estimular e articular a ação catequética com as outras dimensões da
pastoral.
2006,
a 44ª Assembléia Geral da CNBB proclamou 2009 como o Ano Catequético
Nacional, com o tema “Catequese, caminho para o discipulado”, inspirado
no Documento de Aparecida (2007). O lema “Nosso coração arde quando Ele
fala, explica as Escrituras e parte o pão (cf. Lc 24, 32.35)” apresenta a
jornada dos discípulos de Emaús como iluminação para a prática
catequética.
A
preparação para o Ano Catequético Nacional foi organizado em três
momentos, sempre tendo como eixo propulsor o Diretório Nacional de
Catequese:
2007
– a fase da realidade e sensibilidade, tendo como palavra-chave
“Encontro” e como fio condutor “Aprender caminhando com o Mestre”.
2008 – a fase do aprofundamento, com a palavra-chave “Aprofundamento” e como fio condutor “Aprender ouvindo o Mestre”.
2009 – o momento de celebração e ação, com as palavras-chave “Eucaristia – Missão”. 3ª
SEMANA BRASILEIRA DE CATEQUESE – INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ – COMISSÃO
EPISCOPAL PASTORAL PARA A ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA – CNBB
Gestação de novo tipo de Catecismo.Na
família, a espera pela criança que vai nascer atinge todos e tudo. É um
pouco o que se dá com o projeto de um novo catecismo local, a ser
imaginado, programado e gestado com os olhos atentos às novas situações
em que ele vai nascer. Todos somos convidados a colaborar, cientes de
que enfoques, programação, subsídios, não podem mais ser os mesmos de 10
anos atrás. Fiéis ao passado, mas sem nos prendermos a ele, vamos
pensar:
1. Como aproveitar as chances de renovação que a pós-modernidade nos oferece?
2. Como discernir o que é prioritário no momento atual?
3. Como resistir profeticamente ao que é inaceitável para nós?
4. Como preparar-nos para o diferente que já vem vindo?
5. Quais são os efeitos do multiculturalismo sobre as novas gerações?
6. Como
respeitar lacunas e deficiências inerentes à processualidade da busca
religiosa, sem fazer concessões indevidas, que podem dar a impressão de
barateamento da fé?
7. Como programar a catequese, nas diversas faixas etárias e situações, tendo em mente essas preocupações?
Pe.
WOLFGANG GRUEN, SALESIANO, REVISTA DE CATEQUESE, ANO 31, Nº 126,
ABRIL-JUNHO 2009, UNISAL, CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO.